Pedagiômetro

20 de abr. de 2011

Os ares viciados do Palácio dos Tropeiros



Dentre os curtos períodos de vigência da democracia na história da nossa República, nenhum foi tão significativo quanto o que vivemos na última década.
A eleição de um ex-operário à Presidência da República foi uma forma corajosa e ousada de a população brasileira dizer um basta aos quinhentos anos de governos que representaram os interesses de uma minoria. A seguir, após a reeleição desse mesmo Presidente, para sua sucessão, o país ousa novamente, desta vez para alçar ao cargo máximo uma mulher, ex-militante da resistência às forças da ditadura militar que governou o Brasil por duas décadas.
Por tudo isso, creio, vivemos bons momentos de nossa história. Muito mais que o sucesso dos modelos econômico, de desenvolvimento e de justiça social iniciados nesse período, há um valor simbólico no fato de se oferecer a qualquer criança brasileira a certeza de que ela também pode ser e fazer o que quiser quando crescer. Trata-se de um ajuste de contas do Estado frente aos valores e à autoestima do povo brasileiro.
Enalteço aqui, o papel de Lula, Dilma e de todos aqueles que compuseram ou compõem seus governos, mas sem deixar de destacar os aspectos importantes que construíram o período que antecedeu a eleição do primeiro.
A reabertura democrática permitiu uma sucessão de fatos de expressiva relevância ao país. O poder do voto, os anseios, as vitórias e conquistas, as derrotas, os erros e os acertos, tudo isso teve parcela de responsabilidade na construção do Brasil de hoje.
Todo esse processo, todas essas mudanças, a evolução das políticas, as mudanças de rumo, tudo isso ocorreu em meio alternâncias de poder percebidas em nosso Governo Federal, que passou pelas mãos distintas de José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula e agora Dilma.
Em Sorocaba, não. Com tantas mudanças, nesse período Sorocaba só conheceu governos do mesmo grupo político.
Sim, Theodoro Mendes, Flávio Chaves, Paulo Mendes (que voltaria após Pannunzio), Pannunzio, Renato Amary e Vitor Lippi. Todos eles integram um mesmo grupo político de nossa cidade. Mesmo com a nova situação de Amary, que não alterou seu posicionamento político, apenas trocou de legenda por razões táticas. Há mais de três décadas não se pratica por aqui a alternância de poder, tão cara à democracia.
Talvez isso explique porque tantos vícios e desvios de conduta têm sido tolerados no Palácio dos Tropeiros.
Nos últimos anos assistimos a prisões de Secretários Municipais, afastamentos, escândalos, crimes dos mais variados, condutas impróprias. E na maioria dos casos uma situação em comum, o Prefeito saindo em defesa dos que o cercam.
Há um claro desgaste da forma, do modelo de governo que esse grupo político pratica.
A recente notícia da participação do Secretário de Saúde junto a Hospitais Psiquiátricos, que recebem dinheiro público, é só mais um exemplo disso. Da confusão entre o público e o privado, do certo e do errado, do legalmente aceito e do moralmente tolerado.
Como pode alguém que percebe lucro com a “venda” de serviços de saúde (sem que sequer discuta aqui a qualidade ou a pertinência dos mesmos) ao poder público, ser ao mesmo tempo representante do próprio?
É preciso que haja um rompimento definitivo com essas práticas. Um basta seguro e convicto dito pelas vozes daqueles que, via de regra, têm sido vítimas dessa política. Ou o fazemos agora, ou enfrentaremos a bola de neve em proporções muito maiores.

Paulo Henrique Soranz
Advogado e membro da Executiva do PT/SP

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