Pedagiômetro

8 de dez. de 2010

O Rio enfrenta seus fantasmas com coragem, enquanto São Paulo prefere o silêncio



Há alguns dias o jornalista Maurício Dias iniciou seu artigo semanal na revista Carta Capital afirmando que “A sociedade só formula problemas que pode resolver. Às vezes, demora por falta de apoio social e político. Mas, quando é hora, ela resolve de qualquer maneira”.
De tudo o que li sobre as ações do governo carioca no enfrentamento ao crime organizado do estado, nada me pareceu tão verdadeiro e oportuno.
A história de ausência do estado nos morros cariocas é antiga. Começou com o fim da escravidão, quando uma cidade com população em sua maioria negra não soube desenvolver (ou melhor, não quis) políticas que acolhessem o povo liberto. Boa parte destes, é claro, viu-se obrigada a se instalar nos morros.
Muito aconteceu nas décadas seguintes. A ausência do estado no atendimento das necessidades básicas das populações produz efeitos tão óbvios, quanto cruéis, como à substituição da figura do estado constituído, pelo paralelo. Simples assim, se o poder público não cuida das demandas básicas, o crime organizado cuida como forma de garantir uma relação de cumplicidade com os que o cercam.
Daí a retidão da tese de que a omissão do estado associada à tolerância da população constrói o resultado visto no Rio.
E apenas para que não se deixe em branco outra passagem importante nesse enredo, há algumas décadas, quando o tráfico passou a andar ao lado de estruturas que serviam ao jogo do bicho e que já mantinham relação espúria com agentes das polícias, houve também uma aproximação determinante do tráfico com o estado.
O fato é que isso tudo tomou uma proporção insuportável. Algo muito mais firme e corajoso haveria de ser feito para desmontar toda essa estrutura.
E quando o Governo Federal apresentou e a então candidata Dilma insistiu na instalação das UPPs, Unidades de Polícia Pacificadora, como instrumento de recuperação de territórios perdidos, muitos debocharam da idéia. Trataram-na como peça publicitária.
Mas eis que o governo carioca soube, de fato, ler de forma correta e completa o que por ali se passava. E enfrentou com a força necessária a questão.
Ainda há muito o que ser feito por ali, mas o recado foi dado. O Rio entendeu que a sociedade não suporta mais o modelo que até então vinha sendo tolerado.
E São Paulo? Nosso estado está livre de tudo isso?
É bem verdade que os problemas daqui, apesar de parecidos, não são iguais aos de lá.
A principal organização criminosa de São Paulo, o PCC, possui estrutura e organização diferente e mais complexa.
No entanto, o que há em comum é que suas principais lideranças, tanto quanto as de lá, comandam suas ações de dentro dos presídios.
E é justamente aí que entendo esteja o ponto nevrálgico da omissão do governo paulista. No Rio, as lideranças do crime organizado foram transferidas para presídios federais, de segurança máxima, como forma de quebrar a estrutura organizacional daqueles.
Aqui, o governo paulista, além de não reconhecer ou implementar qualquer política de segurança elaborada pelo Governo Federal, também se recusa a encaminhar líderes de facções para unidades federais. Claramente preferem o acordo com criminosos em troca de relativa paz nos presídios. Algo que acoberte ou disfarce situações como as ocorridas em 2006, quando o PCC conseguiu parar o estado com atentados.
No Rio, a sociedade está enfrentando os problemas criados por ela própria. O lamentável é perceber que o governo de São Paulo ainda não acordou para o que está construindo.

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