Pedagiômetro

20 de jun. de 2011

Em Sorocaba, Política de Saúde reproduz velhos desvios


Há algum tempo tenho repetido que a ausência da alternância de poder em Sorocaba tem nos trazido sérios prejuízos. Portanto tratar do escândalo que agora tem como palco o Conjunto Hospitalar é falar de mais do mesmo. Mesmo assim, vale a abordagem, nem que seja apenas como mais um exemplo que reforce a tese.
Quando um mesmo grupo político administra uma cidade por longo período sem interrupção, como no caso presente em que há cerca de trinta anos figuras que representam um mesmo projeto se sucedem sem interrupção, a tendência é que enfrentemos ao menos dois graves problemas, um deles é a incapacidade que se desenvolve em identificar ou aceitar as deficiências de seus governos, outro é que se sintam muito à vontade. A ponto de agirem como se fossem inatingíveis e, por isso mesmo, acima da lei. É exatamente o que vivemos em Sorocaba.
Foi assim que um ex-secretário se sentiu confortável para arquivar milhares de fotos de pornografia infantil em sua máquina dentro da Prefeitura. Ou ainda que um outro ex-secretário pôde desenvolver relações que lhe oferecessem alguma vantagem, como um bom desconto na compra de um novo automóvel ou a isenção de impostos à empresa de sua família.
Assim tem sido. E o que também tem se repetido e se tornado um tanto quanto previsível é a reação do Prefeito Vitor Lippi ao ser informado da prisão de mais um dos seus. Palavras como surpresa e perplexidade têm sido sempre acompanhadas de um discurso de defesa e solidariedade aos seus parceiros. Não é preciso lembrar de nomes, o que escrevo aqui é o retrato de acontecimentos recentes. Todos do atual governo.
Recentemente, o PT de Sorocaba protocolou junto ao Ministério da Saúde pedido de auditoria no município de Sorocaba. O Prefeito disse concordar com a medida e que isso seria bom. Algo como um atestado de idoneidade conferido pelo Ministério ao município. Disse também tratar-se de ação eleitoreira e que o tempo revelaria a competência e a seriedade da administração nessa questão.
Aliás, reafirmou que de saúde conhece muito, já que dedicou oito anos de sua vida à pasta, na cidade.
Pois eis que o tempo é mesmo o senhor da razão. Em poucos meses emergem denúncias e escândalos que abarcam praticamente todas as áreas da saúde no município.
No que se refere à saúde mental, o relatório que aponta um inaceitável índice de mortalidade nos intrigantes hospitais do gênero aqui localizados. A Santa Casa de Misericórdia desiste de sua relação com o município e torna pública a falta de investimentos da Prefeitura para o atendimento do PS.
Agora, o escândalo do CHS envolve os diretamente indicados por importantes lideranças do PSDB na cidade. Trata-se de caso de desvio de dinheiro público por vias distintas, sobretudo pela fraude de folhas de pagamento, com remuneração a funcionários que não trabalharam para tanto.
O discurso recorrente de Lippi, portanto, de que a saúde vai mal porque o SUS não repassa o volume necessário de recursos, cai por terra. Até porquê só saberemos se os mesmos são ou não suficientes, se tivermos certeza de que estão sendo bem empregados. E a convicção que se forma é que não estão.
Volto a me referir ao afirmado no início deste texto. O modelo aplicado pelos governos que se sucedem por aqui está deteriorado. O que se plantou acabou se perdendo pela falta de cuidado dos que por isso eram responsáveis. A gestão está caindo pela própria ação do tempo. Está, por assim dizer, apodrecendo.
Já não creio em remédio para o poder público municipal que não a alternância de poder. O que esse grupo que governou Sorocaba nas últimas três décadas tinha a oferecer, se esgotou.

Paulo Henrique Soranz
Advogado e membro da Direção Executiva do PT/SP

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