Pedagiômetro

11 de nov. de 2010

Entrevista do Ministro Fernando Haddad sobre o ENEM

Segue na íntegra entrevista concedida pelo Ministro Haddad ao Bom Dia Brasil sobre os problemas percebidos na aplicação do ENEM.
Importantes informações e fundamental leitura:

Confira a íntegra da entrevista a Alexandre Garcia, Renato Machado e Renata Vasconcelos:

Repetir erro significa não ter aprendido lições? Porque esse descuido?
Na verdade é o contrário. No ano passado, nós tivemos o furto de uma prova, o que obrigou o adiamento do exame, que foi bem realizado 60 dias depois da data prevista. Foi um furto numa gráfica de grande porte. Gráfica que no dia do furto declarou que cumpria todos os requisitos de segurança e, depois, vocês mesmos mostraram as imagens que mostraram que isso não era correto, não era verdadeiro.

Agora, o edital exigia uma conferência por parte do Inep que não houve...
Houve a conferencia da matriz. O Inep não tem condição de fiscalizar e ler 4, 6 milhões de provas. O Inep lê a matriz, confere e dá ordem de impressão. A própria gráfica – que é a maior empresa gráfica do mundo, fatura US$ 20 bi por ano, é uma multinacional –, em carta, ontem pela manhã, reconheceu que o lote de 21 mil provas saiu com erro de impressão.

O que o senhor tem a dizer para esses alunos que estão desconfiados?
Que nós vamos recorrer da decisão da juíza. Não há nenhuma razão objetiva e técnica para cancelar a prova do sábado.

Não há razão para pedir desculpas aos alunos?
Evidente que sim. Todo desconforto merece por parte do poder público uma retratação. A questão é que se nós não acatarmos a Teoria da Resposta ao Item, se nõa considerarmos que é possível aplicar uma prova aos alunos prejudicados com o mesmo grau de dificuldade da primeira, vamos colocar em perigo e risco todo o sistema de avaliação do Brasil.

Esse é o ponto. A Justiça está entendendo que se aplicarmos nova prova a dois mil alunos ou menos feriria o principio da isonomia em concurso.
Eu entendo o argumento, mas nós vamos levar ao conhecimento da Justiça que a tecnologia educacional hoje permite com toda precisão fazer isso.
Eu vou citar um exemplo: o ano passado, nós aplicamos dois Enem. Um Enem para todo mundo e um para os alunos que sofreram com as enchentes no Espírito Santo e para os alunos dos presídios. Eram duas provas distintas aplicadas em dias distintos e os resultados saíram rigorosamente na mesma escala e com na data.
Veja bem, o pagamento de bônus para professor em São Paulo, a Justiça vai derrubar porque os resultados não são comparáveis? A Prova Brasil e o Ideb, a Justiça vai derrubar porque os resultados não são comparáveis? O PISA, Programa Internacional de Avaliação de Alunos, que permite a comparação de desempenho de estudantes de países diferentes de um ano para o outro vamos derrubar? O Toffle, exame de inglês, nós vamos derrubar? Quer dizer, a Justiça precisa ser informada de que essa tecnologia existe de que essa tecnologia está disponível. É justamente para exames da escala do Enem.

No IDH da ONU publicado a poucos dias, o Brasil está numa posição muito ruim por causa da Educação. O senhor tem algo a dizer sobre essa posição 79ª. com outros países da América Latina a nossa frente?
Eu discordo um pouco dessa avaliação por um motivo muito simples: o IDH conta com duas variáveis. Uma que olha para o passado, que é a escolaridade média do brasileiro com 25 anos ou mais. Nessa variável nós vamos muito mal: 7,2 anos. Mas esta variável olha para o sistema de ensino do século passado. A variável que olha para o nosso sistema educacional é a expectativa de escolaridade, que é quase o dobro da escolaridade média dos adultos brasileiros. Se você comparar as duas, você vai verificar que o Brasil é um dos países que mais avançou em escolaridade média. O Pisa que vai ser anunciado em dezembro, já nos dá conta que na primeira década do século 21 o Brasil também está entre os três países que mais avançou em proficiência de leitura, matemática e ciências.
Então, Renato, se você olhar para o que o Brasil foi na área de Educação e verificar o local que nós ocupamos no ranking, você se decepciona, porque pensa assim: por que nós não fizemos mais pela educação no nosso país. Mas se você olhar para o presente e para o futuro, o cenário é completamente diferente do século 20. Nós estreamos o século 21 com resultados importantes. Eu faço um convite a vocês: façam um debate com observadores externos o Brasil. Façam um debate com pessoas que entendem de educação da UCDE do Banco Mundial do Bid da Unesco e da Unicef e da OEI. Façam um debate público sobre o que foi a educação brasileira na primeira década do século 21. Eu faço questão de participar ou assistir esse debate com toda tranqüilidade agora que estamos concluindo a primeria década do século.

Foram apontados problemas na qualidade das provas. Erro de digitação, de pontuação, inclusive erros conceituais, uma pergunta com duas respostas possíveis, questões repetidas, outra pergunta que não haveria resposta possível apontada por professores que avaliaram as provas. E agora?
O Enem tem 180 questões e o gabarito oficial sai depois que os formuladores das provas que são professores universitários fazem a checagem final. O ano passado por exemplo, nós tivemos que anular uma questão das 180. Há vários casos de vestibulares em que a cada 100 questões você tem uma taxa de tolerância em que se admite uma falha ou sem resposta ou com duas respostas em que as questão não é considerada. Nós vamos aguardar o parecer dos técnicos que elaboraram a prova, conforme disse são professores universitários convidados pelo Inep para formular a prova. O gabarito oficial dá a palavra final sobre o assunto.

No ano passado, grandes universidades descartaram o Exame. Como o senhor vê a possibilidade de faculdades desistirem de usarem o Enem no seu processo de avaliação, por causa de mudanças inclusive no calendário?
A desistência no ano passado se deveu ao fato de que nós não conseguimos processar os resultados em virtude do adiamento por 60 dias da prova. Não teve nada a ver com o Enem. Tanto é verdade, que todas que não usaram o ano passado em função disso, voltaram a usar. O dobro de universidades usará o Enem esse ano em relação ao ano passado, e 500 mil alunos a mais se inscreveram para o Exame.

O que o senhor diria para os milhões de estudantes que estão nessa dúvida? Eu sei que o senhor vai falar com juristas para tentar convencê-los de que não há quebra da isonomia.
O que nós precisamos fazer é convencer o judiciário de que a tecnologia educacional, hoje, permite aplicar uma segunda prova sem nenhum prejuízo para os estudantes, com total isonomia, porque vamos seguir rigorosamente a mesma escala, como todas as avaliações nacionais e internacionais. Fazendo chegar essa informação à juíza, eu tenho certeza de que ela vai rever sua posição. Caso contrário, vamos recorrer ao Tribunal, sem nenhuma dificuldade.


Fonte: PT São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário