Pedagiômetro

12 de mai. de 2010

Vereador Ruby não é causa para um Legislativo ser fraco, mas é consequência disso

Após ter sido flagrado por policiais militares dirigindo em alta velocidade e ter confessado que, antes disso, havia ingerido bebida alcoólica, o vereador Ruby enfrentou a justiça.
Hábil, preferiu firmar acordo proposto pelo representante do Ministério Público que condicionou a suspensão da ação a algumas contrapartidas do réu, entre elas, o compromisso de não frequentar bares, boates e afins durante dois anos. Feito o acordo o processo ficará suspenso por igual período e não havendo reincidência será arquivado.
A notícia despertou certo ar de satisfação na população sorocabana. Algo como uma pequena vingança, porque as pessoas não toleram a ideia de impunidade quando se trata de infração cometida por político.
De qualquer forma, creio que a questão a ser abordada é que a presença do vereador Ruby no legislativo sorocabano não é causa de seu nível sofrível. É, em verdade, consequência.
Há trinta anos sendo administrada pelo mesmo grupo político, Sorocaba acostumou-se a conviver com a política do “aos amigos tudo”.
Isso funciona como uma via de mão dupla. Em um sentido, algumas figuras que ocupam cargos públicos se utilizam de seu “prestígio” político para conseguir pequenos favores, que podem ser desde um remédio ou uma consulta mais rápida na rede pública, até a liberação facilitada de alvarás de funcionamento, como no caso que derrubou os Secretários Biazzoto e Ferrari, acusados no escândalo das propinas de postos de combustíveis. No sentido inverso, parte da população já se acostumou a essas “facilidades”.
Eis que Ruby, como tantos outros, elegeu-se sem a exata noção da atividade parlamentar. Conquistou, no entanto, legitima e democraticamente seus votos praticando essa política de amigos para amigos.
É o famoso líder comunitário que tenta parcelar a conta de água de um vizinho desamparado, ou que pede melhor sinalização em rua do bairro, etc.
Ações que qualquer cidadão poderia executar, mas que, acostumados com essa forma de “fazer política”, preferem terceirizar obrigações.
Aí o resultado é esse, uma Câmara composta pelo menos em sua metade por parlamentares que desenvolvem seus mandatos amparados no mais descarado assistencialismo.
A cereja do bolo, ou a azeitona da pizza, pra transformar tudo isso em algo muito indigesto é o corporativismo, ou pior, a prática de pequenos acordos imorais que são feitos pra que tudo seja mantido exatamente como está. Exemplo claro foi o que isentou de pena o próprio Ruby pelo mesmo caso da direção perigosa (regada a cerveja).
Há uma urgente necessidade de que os setores da sociedade que possuem influência na opinião da população, como os veículos de comunicação, entidades de classe, empresários, partidos políticos e movimentos sociais colaborem no incentivo aos debates programáticos.
A beleza da democracia, sua riqueza e seus valores não podem ser depreciados pela má conduta de alguns.
O desafio é superarmos a fase da política de amigos para amigos e avançarmos definitivamente para uma cultura política de melhor nível.

Um comentário:

  1. Paulo, vc tem razão. O Legislativo, no Brasil -- em especial o local -- desde o final da ditadura parece que não reaprendeu o que é a autonomia dos poderes. Creio que os partidos, de todos os matizes, podem e devem colaborar com a recuperação desta autonomia, elemento fundamental da democracia. Para isso, deviam ter a responsabilidade de escolher melhor, de forma mais criteriosa, entre seus quadros, aqueles que disputarão o mandato de vereador.

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