Dia desses li um artigo de Luiz Fernando Veríssimo, com o título Minúcias. Inclusive o jornal Bom Dia Sorocaba o publicou.
Das qualidades do autor nem preciso falar. O que destaco é a oportunidade e a forma simples e clara com que abordou a questão do polêmico debate em torno do Plano Nacional de Direitos Humanos.
Não se colocou a favor, nem contra. Apenas atentou para o fato de o Brasil ter superado uma época, um período histórico e por isso hoje pode discutir temas como esse.
Diz, com razão, que há alguns anos poucos eram os que se debruçavam sobre temas como casamento os debatidos no tal plano. Que as prioridades eram a consolidação da democracia e a estabilidade econômica.
Pois o governo Lula alcançou ambos e por isso, agora, é possível a sociedade avançar para uma evolução também cultural.
O debate está aberto e será amplo e democrático como só seria possível num governo petista.
Segue o excelente texto do Veríssimo:
MINÚCIAS
É bom que coisas como aborto e casamento gay estejam sendo discutidas mais abertamente, no Brasil. Porque são questões importantes em qualquer lugar, mas também porque ampliam o debate político.
Minúcias de relacionamento humano e direitos individuais como estas crescem e se transformam em matéria política quando as questões básicas da política — estabilidade institucional, partidos representativos, democracia rotineira — estão resolvidas, ou não afligem mais tanto.
Poder ocupar-se de minúcias é sinal de um corpo político saudável, com tempo para pensar no outrora impensável. Ou, diria um opositor das novas discussões, para pensar em bobagem.
As controvérsias sobre aborto e casamento gay expandem o debate político mas não transcendem velhas diferenças entre esquerda e direita, na medida em que uma representa o pensamento "progressista" e a outra o conservadorismo religioso e laico — e suas respectivas contradições.
Para a esquerda a questão da descriminalização do aborto se resume no direito da mulher de reger seu próprio corpo sem arriscar sua vida em intervenções clandestinas, como as que existem hoje sem qualquer controle.
Para a direita ninguém tem o direito de interromper uma vida, que começa na concepção. A posição da esquerda não é incoerente com sua valorização do social sobre o individual. E conservadores raramente invocam o mesmo argumento usado para poupar um feto, a de que a vida é um dom sagrado, para poupar um condenado à morte.
E nos dois casos, na proibição da mulher de dispor do seu ventre como quiser e na execução do condenado, defendem o que normalmente abominam: uma intromissão radical do estado na vida das pessoas.
Quanto ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, é surpreendente que esquerda e direita não se encontrem em algum ponto.
A posição progressista é de tolerância com a opção sexual de cada um, a dos conservadores é de condenar o homossexualismo e tudo que o legitime.
Mas, assim como um lado não pode deixar de achar careta mas inspiradora a vontade de casar dos gays, com todos os paramentos e as bênçãos tradicionais, o outro lado não pode deixar de admirar esta compulsão pela respeitabilidade.
O matrimônio é um sacramento em declínio. Os gays podem recuperá-lo. Quem pode ser contra?
Luiz Fernando Veríssimo
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