Pedagiômetro

8 de fev. de 2010

Enchentes são mais que desastres naturais, por Hamilton Pereira

Várias cidades depararam-se com graves problemas de enchentes neste verão que ainda não chegou ao fim. Bairros e regiões passam dias e dias alagados, a população - em especial a mais pobre - perde o que tem e, o pior, dezenas de pessoas morreram, aqui no estado de São Paulo, por conta dos deslizamentos de terra. Sorocaba incluiu-se entre essas cidades.

Os meios de comunicação noticiaram incessantemente que o mês passado foi o janeiro mais chuvoso de décadas. E muitos podem ter pensado que as enchentes e os deslizamentos sejam tão-somente manifestações da natureza em fúria, contra o que há pouco a se fazer. Isto é um equívoco, pois a presença de um poder público voltado aos interesses da maioria e não colonizado pelos interesses do capital imobiliário pode fazer muito para combater tais problemas. O fundamental é a prevenção.

O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, afirma que de imediato é preciso desassorear rios e córregos e combater a erosão do solo. Segundo Santos, só na região metropolitana de São Paulo são cerca de 250 mil caminhões por ano de sedimentos lançados nos cursos d´água. Este precisa ser um trabalho permanente. O engenheiro hidráulico Kokei Uehara também destaca a necessidade do aumento da permeabilidade do solo.

Outro geólogo, Paulo César Fernandes da Silva, diretor adjunto do Instituto Geológico, afirma que o fundamental é o planejamento e o ordenamento territorial. Ele declarou ao Portal IG que "os municípios têm que tomar conta do uso de seu solo e da ordenação de seu território. A ausência de planejamento é cultural. O que estamos vendo é que, onde foi registrado um problema por conta da chuva, a falta de planejamento fica mais evidente".

Tecnicamente, destacou Álvaro Rodrigues dos Santos em artigo no site Carta Maior, as questões já foram devidamente estudadas e equacionadas pelos especialistas brasileiros. A questão, ele afirma, é política.

É o que ocorre em Sorocaba. A cidade, há décadas, vem sendo administrada por prefeitos vinculados diretamente ao capital imobiliário. Assim, o planejamento urbano acaba sendo voltado aos interesses dos loteadores e comerciantes de imóveis. A grande prejudicada, a população mais pobre, é compelida a buscar moradia em áreas de risco, por falta de políticas públicas efetivas de habitação popular.

E quando a água bate na cintura, vêm as ideias mirabolantes, sem planejamento, meras tentativas de fugir dos problemas: fazer um muro de três metros de altura às margens do rio Sorocaba; construir um piscinão subterrâneo; distribuir botas de borracha.

Esse é o resultado de políticas públicas voltadas à maquiagem urbana, quando o necessário é planejamento real, efetivo, que enfrente os interesses poderosos dos que se julgam donos da cidade. Se nossa prefeitura continuar brincando de "planejamento estratégico" como mera estratégia de marketing político, girando em torno de si mesma, nos próximos anos vamos novamente lamentar "a fúria da natureza".

Hamilton Pereira
deputado estadual

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