Editorial publicado na edição de 03/09/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A
O Saae fez a lição de casa direitinho, segundo a cartilha do planejamento estratégico apregoada pelo prefeito Vitor Lippi (PSDB). Mas terá de continuar em prédios velhos, por tempo indeterminado
Fosse no futebol, o nome técnico seria “chapéu”. Na linguagem do homem das ruas, é o popular “passa-moleque”. Em administração pública, talvez ainda não tenha sido inventado um termo que defina, com total propriedade, o que a Prefeitura, por sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sede), acaba de fazer com o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), ao destinar para o “Núcleo Camilo Júlio” do Parque Tecnológico o imóvel que o Saae preparou por mais de dois anos para ser o seu Centro Operacional.
O Saae fez a lição de casa direitinho, segundo a cartilha do planejamento estratégico apregoada pelo prefeito Vitor Lippi (PSDB). A área de 39,1 mil metros quadrados na avenida Comendador Camilo Júlio (Zona Industrial) foi desapropriada em dezembro de 2005 pela autarquia, iniciando-se processo de licitação para as obras de adaptação e reforma dos galpões preexistentes. Em junho de 2007 o então diretor do Saae, Pedro Dal Pian Flores, assinou contrato com a empresa vencedora da concorrência, e as obras começaram. No final do mesmo ano, outra desapropriação ampliou a área total para 55,2 mil metros quadrados.
A obra atenderia a uma reivindicação antiga dos funcionários do Saae quanto à precariedade dos prédios ocupados pela autarquia, especialmente no que diz respeito às condições de vestiários e sanitários. Seria, também, uma resposta para problemas logísticos e de custos. O Centro Operacional deveria centralizar os departamentos de Água, de Esgoto e de Drenagem, além dos setores de controle de frota e de equipamentos, oficina, posto de abastecimento, almoxarifado, recursos humanos, cozinha, refeitório e ambulatório, hoje espalhados pelos bairros Vila Haro, Vila Hortênsia, Jardim Brasilândia e Vila Barão. Até mesmo o descanso e lazer dos quase novecentos funcionários fora contemplado com algumas melhorias.
Um Plano de Viabilidade Qualitativa e Quantitativa apontou as vantagens da centralização. Entre elas, “significativos ganhos operacionais e financeiros com a unificação [dos setores], incluindo agilidade nos serviços, otimização das manutenções preventivas, redução das manutenções corretivas, economia de combustível e consequentemente diminuição de despesas”. A expectativa era de que o investimento se compensasse a médio prazo, graças à economia que iria proporcionar.
Mas a necessidade de “queimar etapas” para implantação do Parque Tecnológico (nas palavras do secretário da Sede, José Dias Batista Ferrari) atropelou o planejamento do Saae. Com a destinação do imóvel da Zona Industrial para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a autarquia volta à estaca zero, e com um agravante: como havia a expectativa de ocupação do Centro Operacional ainda este ano, as edificações atuais deixaram de ser reformadas. Os funcionários do Saae terão de conviver, ainda por tempo indefinido, com a precariedade das instalações.
O que poderia servir de consolo para o Saae e para seu diretor atual, Geraldo Caiuby - a promessa de pagamento de R$ 11,32 milhões, a título de “aquisição do imóvel” -, é, por outro lado, motivo de espanto para o observador atento. Primeiro porque, salvo melhor juízo, o imóvel poderia até mesmo ser cedido pelo Saae à Prefeitura, sem ônus para os cofres municipais. Segundo porque o anúncio de “compra” do imóvel ocorreu poucos dias depois de a Prefeitura ter contingenciado (bloqueado) R$ 22,6 milhões em repasses para o Saae, previstos no orçamento deste ano. Ou seja: o ressarcimento pela “compra” do imóvel, se e quando for feito, só cobrirá a metade do que foi bloqueado previamente pela compradora. É como pagar alguém com seu próprio dinheiro.
É intrigante, também, como se chegou ao valor estipulado (R$ 11,32 milhões), que corresponde a 91,4% de tudo o que a Prefeitura pretende investir no novo núcleo. Segundo consta, o Saae não gastou mais do que R$ 8,5 milhões entre desapropriações e reformas. A “queima de etapas” do Parque Tecnológico custou caro para o Saae e poderá custar caro também para o contribuinte.
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul
Esse irretocável editorial do Cruzeiro de hoje carrega uma série de lições. Tratarei de algumas numa próxima postagem.
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